E lá de cima, ele se sentiu completo. Não bem, não feliz,
não infinito. Apenas completo. Havia pessoas com ele. Pessoas que ele não
conhecia, não sabia nada além do nome e do rosto aparente que viu durante 100
dias. Apesar das pessoas, lá em cima só havia ele.
O céu estava azul, com nuvens por toda a parte. Mas o sol
brilhava. Assim como a alma dele, que se sentia livre, como se não houvessem
regras nem pesares que a perseguisse todos os dias. Ele andou com as pessoas.
Riram, conversaram e se conheceram um pouco mais. Apenas o suficiente pra
tornar aquele momento algo eterno. Mas ainda assim, ali em cima só havia ele.
Havia ele e o desejo de liberdade. Era só isso que havia
ali. Os medos, pesares, preocupações. O vazio. Aquele vazio que o assombrava
todos os dias. Aquele que o tomava por inteiro ao amanhecer e lhe acompanhava
até o momento em que seu corpo não aguentava mais. Tudo. Tudo havia sumido.
Menos o desejo de liberdade.
Eles andaram, rindo. Como ele se sentiu completo. Ali não
havia nada. Só ele.
O céu foi fechando, as nuvens escurecendo, e o sol sumindo.
E assim sua alma foi voltando ao normal. Voltando ao que era. Voltando à
escuridão que lhe era tão comum, tão cativa, e tão amiga. Eles voltaram.
Ao descer lá de cima, tudo existia novamente. Os pesares, os
medos, a nostalgia. O vazio.
Todos se foram, mas ele ficou. Lá embaixo. Pensando em como
foi estranho se sentir completo. Eram pessoas que ele não conhecia, num local
novo com uma vista incrível. Mas a vida não era assim.
Era cheia dos mesmos rostos, da mesma vista, do mesmo vazio.
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