quinta-feira, 6 de março de 2014

E lá de cima

E lá de cima, ele se sentiu completo. Não bem, não feliz, não infinito. Apenas completo. Havia pessoas com ele. Pessoas que ele não conhecia, não sabia nada além do nome e do rosto aparente que viu durante 100 dias. Apesar das pessoas, lá em cima só havia ele.

O céu estava azul, com nuvens por toda a parte. Mas o sol brilhava. Assim como a alma dele, que se sentia livre, como se não houvessem regras nem pesares que a perseguisse todos os dias. Ele andou com as pessoas. Riram, conversaram e se conheceram um pouco mais. Apenas o suficiente pra tornar aquele momento algo eterno. Mas ainda assim, ali em cima só havia ele.

Havia ele e o desejo de liberdade. Era só isso que havia ali. Os medos, pesares, preocupações. O vazio. Aquele vazio que o assombrava todos os dias. Aquele que o tomava por inteiro ao amanhecer e lhe acompanhava até o momento em que seu corpo não aguentava mais. Tudo. Tudo havia sumido. Menos o desejo de liberdade.

Eles andaram, rindo. Como ele se sentiu completo. Ali não havia nada. Só ele.

O céu foi fechando, as nuvens escurecendo, e o sol sumindo. E assim sua alma foi voltando ao normal. Voltando ao que era. Voltando à escuridão que lhe era tão comum, tão cativa, e tão amiga. Eles voltaram.
Ao descer lá de cima, tudo existia novamente. Os pesares, os medos, a nostalgia. O vazio.
Todos se foram, mas ele ficou. Lá embaixo. Pensando em como foi estranho se sentir completo. Eram pessoas que ele não conhecia, num local novo com uma vista incrível. Mas a vida não era assim.

Era cheia dos mesmos rostos, da mesma vista, do mesmo vazio. 

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